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O perigo que mora nas plantações do País

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Publicado em 07/11/2016

Os agrotóxicos* são produtos utilizados na agricultura para proteger o cultivo de determinadas pragas. Podem ser divididos em grupos, sendo os três mais comuns: herbicidas – combatem plantas daninhas; fungicidas – contra doenças ocasionadas por fungos, bactérias e vírus; e inseticidas (insetos, moluscos etc.).

Como produtos que são utilizados com finalidade de matar “pragas” pode ser bom para a nossa saúde?  Alguns podem dizer que se aplicados da forma correta, haverá degradação do produto o que reduz o risco do consumidor. O que ocorre é que grande parte dos cultivos não tem obedecido a determinadas regras de segurança – e tem realizado aplicações tardias, ou em maior quantidade do tóxico e, até mesmo, com uso de produtos de uso proibido.

Há algumas formas do ser humano ser exposto aos agrotóxicos. Uma delas é comendo o alimento de uma colheita com uso de agrotóxicos e a outra é por meio do trabalho na agricultura e em ambientes de trabalho que levem a pessoa a respirar e tocar em pesticidas, o que os coloca em risco de envenenamento crônico ou até mesmo a morte. (como inclusive retratou o volume I do Documentário – O Veneno está na Mesa)

De acordo com o Center of Genetics and Environmental Health da School of Public Health da Universidade de Washington a maioria dos estudos sobre os efeitos na saúde de pesticidas têm focado nos trabalhadores rurais, naqueles que aplicam os pesticidas. Nestes grupos tem sido observados sintomas como náuseas, cólicas abdominais, diarreia, tonturas, ansiedade e confusão, o que pode ser muito grave.

O uso de agrotóxicos está associado ainda a problemas respiratórios, desordens de memória, doenças da pele, depressão, aborto, defeitos de nascimento, câncer e doenças neurológicas, tais como: doença de Parkinson.

Entre os grupos mais atingidos de alimentos estão frutas e legumes como: maça, aipo, pimentão doce, pêssegos, morangos, nectarinas, uvas, espinafre, alface, couve, pepino, mirtilos, e batatas, por exemplo.

Quero chamar a atenção aqui para alguns dados:

No dia 2 de novembro deste ano o programa Bom Dia Brasil (Globo) apresentou uma reportagem que repercutiu o resultado de um teste em laboratório realizado pela Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), com amostras de oito alimentos comprados em feiras e supermercados no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Os resultados encontrados são alarmantes: “entre verduras, frutas e legumes observados, 14% tinham níveis de pesticidas acima do que é recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). E mais de um terço, 37%, tinham agrotóxicos que não poderiam ser usados na produção do alimento”. (assista a matéria aqui)

Um importante e revelador documento concebido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) – denominado Dossiê ABRASCO – Impactos dos Agrotóxicos na Saúde” reforça veementemente que os agrotóxicos fazem mal à saúde dos seres humanos e do meio ambiente. A primeira edição foi publicada em 2012, sendo a última edição publicada em 2015. Em números temos:

  • 64% dos alimentos estão contaminados por agrotóxicos (Anvisa, 2013)
  • 34.147 notificações de intoxicação por agrotóxico foram registradas de 2007 a 2014 (MS/DataSUS)
  • 288% de aumento do uso de agrotóxicos entre 2000 e 2012 (Sindag)
  • U$12bi foi o faturamento da indústria de agrotóxicos no Brasil em 2014 (Andef)

Há também um grupo denominado “De Olho nos Ruralistas: Observatório do agronegócio no Brasil”. Eles trazem à evidência os resultados verificados pelo “Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos” – que cá entre nós foi pouco (ou nada) divulgado pela grande imprensa. Parafraseando nossa “Indústria Química” – é nitroglicerina pura. Apenas na introdução temos a seguinte análise de cenário:

“A política agrícola de modernização no campo adotada pelos governos brasileiros a partir da década de 1960, denominada “revolução verde”, baseava-se na monocultura e no uso intensivo de agrotóxicos, incentivada por meio de isenções fiscais cedidas às indústrias químicas formuladoras de agrotóxicos.

Esse modelo de desenvolvimento vem gerando impactos sociais e ambientais de curto, médio e longo prazos, os quais são custeados por toda a população por meio de gastos públicos com recuperação de áreas contaminadas, prevenção, diagnóstico e tratamento de intoxicações agudas e crônicas, afastamentos e aposentadorias por invalidez de trabalhadores rurais e até mortes por utilização dessas substâncias, sem que haja a socialização desses custos de responsabilidade direta das indústrias químicas.” (CONASEMS – Secretaria de Vigilância em Saúde – Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador)

E não para por ai: a exposição humana a agrotóxicos representa, portanto, um problema de saúde pública. Em face disso, a Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos (VSPEA) busca efetivar ações integradas de prevenção, promoção, vigilância e assistência à saúde de populações expostas ou potencialmente expostas a esses produtos.

Se neste ponto você reflete que: “ah, mas esta análise cabe apenas a quem lida com o produto” – digo que é hora de irmos mais profundo. Que valor o plantador tem que o difere de você? Porque ele merece estar nesta estatística? Enquanto houver pessoas que não se preocupam com a procedência daquilo que comem, daquilo que vestem, haverá quem sofra. Mas, acreditem: os agrotóxicos não estão limitados nas cercanias das plantações, eles já invadiram nossa mesa, nossa sala de jantar. E os danos estão em nossa frente. Leia esta reportagem do “Observatório do Agronegócio”.

E não para por ai: fiz uma pesquisa e encontrei duas reportagens publicadas pelo jornal EL País – com um ano de diferença entre elas.

Na primeira delas O ‘alarmante’ uso de agrotóxicos no Brasil atinge 70% dos alimentos – de 30 de abril de 2015, é retratado que o Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de consumo de agrotóxicos desde o ano de 2008, ou seja, o posto é do país a pelo menos 9 anos. “Enquanto nos últimos dez anos o mercado mundial desse setor cresceu 93%, no Brasil, esse crescimento foi de 190%, de acordo com dados divulgados pela Anvisa”, há época.

Replico aqui um importante trecho que reforça o que tenho defendido e dito a vocês há tempos, em relação aos riscos à saúde: “o uso dessas substâncias está altamente associado à incidência de doenças como o câncer e outras genéticas. Por causa da gravidade do problema, na semana passada, o Ministério Público Federal enviou um documento à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendando que seja concluída com urgência a reavaliação toxicológica de uma substância chamada glifosato e que a agência determine o banimento desse herbicida no mercado nacional. Essa mesma substância acaba de ser associada ao surgimento de câncer, segundo um estudo publicado em março deste ano pela Organização Mundial da Saúde (OMS) juntamente com o Inca e a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC). Ao mesmo tempo, o glifosato foi o ingrediente mais vendido em 2013 segundo os dados mais recentes do Ibama .

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA) os brasileiros consomem o equivalente a cinco litros de veneno a cada ano.

Vamos à próxima matéria, também do El País, mas deste ano, de 10 de abril de 2016 – “Agrotóxicos: o veneno que o Brasil ainda te incentiva a consumir. A jornalista Marina Rossi começa assim: “O morango vermelho e carnudo e o espinafre verde-escuro de folhas largas comprados na feira podem conter, além de nutrientes, doses altas demais de resíduos químicos. Estamos em 2016 e no Brasil ainda se consomem frutas, verduras e legumes que cresceram sob os borrifos de pesticidas que lá fora já foram banidos há anos. A quantidade   de agrotóxicos ingerida no Brasil é tão alta, que o país está na liderança do consumo mundial desde 2008. A boa notícia, é que naquele mesmo ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) iniciou a reavaliação de 14 pesticidas que podem apresentar riscos à saúde. A má notícia é que até agora os estudos não terminaram.”

O glifosato é uma das substâncias que permanece em “consulta”. Há ainda o carbofurano também cancerígeno e altamente tóxico.

Mas, porque diante de todo o mal que há constatado quanto ao uso de agrotóxicos para a saúde humana – a começar pelo agricultor, sua família, o trabalhador de almoxarifados destes produtos, até chegar ao consumidor final – ainda se utiliza de agrotóxicos?

Vamos deixar de lado por um momento o discurso de que para se plantar em larga escala é preciso dos pesticidas e blábláblá. Vocês sabiam que há incentivo fiscal e também redução de impostos e facilitação de empréstimos aos agricultores que utilizam agrotóxicos? Realmente, isso facilita muito as coisas para alguns não é?

De novo, trago aqui o documentário “O veneno está na mesa I” – que mostrou a ousadia (do bem) de um agricultor a se negar a abrir mão de suas sementes crioulas em detrimento de “empréstimo” para tocar seu cultivo. Ele perseverou, ele venceu. Você pode pensar: “há, mas apenas existe ele ou poucos destes por ai.” – Engana-se novamente: só em São Paulo temos diversos exemplos que podem ser observados neste site: “Polo de Ecoturismo São Paulo – Consumo Responsável – Produtos Orgânicos”.

Há exemplos por ai. Para aqueles que ainda não conseguem lançar mão de exclusividade em produtos orgânicos certificados e de conhecida procedência, a dica é buscar alimentos com o selo “Agricultura de Qualidade”. Eles não são isentos de agrotóxicos, mas seu uso pode ser mais digamos “consciente”.

Se você vir um morango bonito, vistoso fora de época: fuja! É cilada. De certo que os níveis de agrotóxicos para ele chegar até você fora do ciclo natural de cultivo envolvem produtos tóxicos.

Repense. Vi um comentário no Instagram do qual compartilho. O que investimos na aquisição de comida de verdade, orgânica, no cultivo de temperos e ervas em casa, entre tantas pequenas ações que podemos começar a tomar, é certamente a poupança que precisamos para que nossa saúde não seja refém dos custos dos medicamentos que teremos de usar daqui pra frente como fruto de uma alimentação e estilo de vida disfuncionais, movidos por uma Matrix, que apenas visa lucros, e não olha o ser humano ou o meio ambiente.

Leia também:  O Veneno está na Mesa

Referência Agrotóxicos: *a Lei 7.802/1989, que regulamenta o uso de agrotóxicos, os define como: “Os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; assim como substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.”

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O “alarmante” uso de agrotóxicos no Brasil atinge 70% dos alimentos

Mais da metade das substâncias usadas aqui é proibida em países da UE e nos EUA

http://brasil.elpais.com/brasil/2015/04/29/politica/1430321822_851653.html

 

Agrotóxicos: o veneno que o Brasil ainda te incentiva a consumir

Brasil permite uso de pesticidas proibidos em outros países e exonera os impostos dessas substâncias

http://brasil.elpais.com/brasil/2016/03/03/politica/1457029491_740118.html

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