Quando falamos de dieta cetogênica sempre fico atento com a maneira com que esta modalidade é abordada. Minha preocupação se fundamenta no fato de que não se trata de uma simples dieta, mas sim de uma modalidade que deve ser inserida na rotina de uma pessoa com indicação de um médico ou nutricionista.
Isto inclusive se explica porque a cetogênica – ou cetônica – surgiu primeiramente como uma conduta terapêutica para casos de epilepsia refratária em crianças – como no caso do pequeno Charlie Abraham[1] – que da nome a uma fundação para este fim: instruir quanto ao tratamento cetogênico. Por isso, nesta postagem, o intuito é esclarecer e reduzir as “arestas” criadas pelo que “ouvimos falar” por aí! E, também ajudar aqueles que já tiveram esta indicação pelo médico e nutricionista.
Dito isso, vamos esclarecer o que é, afinal, “dieta cetogênica”. Ela leva este nome, pois induz o organismo a um estado de “cetose”, um processo normal do organismo, que é considerado o “coração” desta modalidade alimentar. Este mecanismo ocorre para nos ajudar a sobreviver quando a ingestão de carboidratos é baixa. Por isso, ela é conhecida por ser uma dieta baixa em carboidratos, aonde o corpo produz cetonas no fígado para ser usado como energia.
Mas, como isso ocorre? Vamos compreender melhor: a cetose consiste num estado metabólico em que o corpo, em lugar de usar a glicose para obter energia, a extrai dos chamados corpos cetônicos – um dos produtos do processo de oxidação dos ácidos graxos no fígado. Estes ácidos graxos atualmente estão armazenados nas suas células em forma de gordura.
Embora pareça algo simples, o processo é mais complexo que se imagina, podendo levar de 3 a 7 dias para que o corpo entre em cetose.
Diferentemente do que muitos acreditam a dieta cetogênica não está correlacionada a maior ingesta de proteína, mas sim, de gordura. Sua composição é 60% gordura, 30% de proteína e 10% vegetais e etc. A base deste modelo alimentar é a gordura, que irá gerar saciedade e, por meio deste elemento gerar os chamados “corpos cetônicos”, que são os geradores de energia neste processo.
Somos únicos, cada organismo é exclusivo. E com a cetogênica isso não é diferente. Assim como o estilo Paleolítico e Low Carb, não se trata de um “modelo de cardápio”, mas de um estilo de vida pautado na redução de consumo e, também, da exclusão de alimentos – especialmente daqueles processados, refinados e todo o universo de “ados” que a Indústria criou – são dois exemplos de práticas – inclusive, bem semelhantes – que podem ser inseridas na rotina das pessoas como uma forma de introduzir qualidade no que se come e melhorar o desempenho do organismo. Certo!?
Como é composta a Cetogênica? Majoritariamente por fontes de gorduras boas e proteínas, quando acompanhada por um nutricionista funcional, a cetogênica pode realizar a manutenção da massa magra e ajustar o percentual de gordura corporal, além de possuir indicativo para pré-diabéticos ou diabéticos – porque controla a resistência insulínica e oferece maior eficiência da ação da insulina no corpo.
Por mudar a forma na qual o corpo consegue energia, a dieta cetogênica pode ser um pouco complicada no início e gerar alguns desconfortos – tais quais dores de cabeça e mal estar. A resistência para realizar exercícios físicos também é alterada, portanto, um modo eficaz encontrado para solucionar estes fatores é realizar esta dieta ciclicamente, ou seja, o profissional irá prescrever um pequeno ciclo de consumo alto de carboidratos, para preencher nossos estoques de glicogênio e nos oferecer energia para as atividades físicas. Como o corpo leva aproximadamente três dias para entrar ou sair da cetose, o ciclo costuma ser de seis dias nesta dieta de baixo índice de carboidratos, e um dia ingerindo muita proteína e carboidrato, mas diminuindo o consumo da gordura.
Com este tipo de alternação, o organismo é capaz de estocar carboidratos para os exercícios da semana. Mas, atenção! Para realizar uma dieta cetogênica cíclica saudável é necessário ingerir proteínas de boa qualidade – frangos, peixes, ovos, carnes –, gorduras consideradas boas – óleo de coco, abacate e oleaginosas. E, nos dias da ingestão de carboidratos, dar preferência a batata doce, mandioca, inhame etc.
A dieta cetogênica apresenta benefícios: a começar pela rapidez e facilidade na metabolização da gordura, ou seja, a perda de peso[2] é maior e mais rápida! Por dispor de um índice menor de proteína para gerar energia, essa proteína é revertida para o aumento da massa.
As gorduras boas, principalmente as saturadas de origem animal, reduzem mais o apetite que os demais alimentos, então a sensação de saciedade é maior. A redução do teor de insulina ocasionado por essa redução de carboidrato gera resultados excelentes para pré-diabéticos ou diabéticos.
É sabido que estes nutrientes são nossa fonte primária de energia, e que eles estimulam a secreção de insulina pelo pâncreas, para que esta transporte a glicose do sangue tanto para a utilização das células, quanto para estoque de energia.
Quando não há a inclusão dos carboidratos na alimentação, a o índice glicêmico sanguíneo é baixo, o que suprime a produção de insulina pelo pâncreas, obrigando o corpo a utilizar outras fontes de energia. Logo, a gordura passa a ser a fonte principal para alcançar este estado. No processo, o corpo passa a produzir corpos cetogênicos, que são a conversão de ácidos graxos advindos do fígado. Quando são lançados na corrente sanguínea, passam a ser utilizados como combustíveis pelo tecido muscular esquelético e cardíaco e ainda pelo córtex da glândula suprarrenal e tecido nervoso.
Hoje em dia a Cetogênica aparece como uma das opções para quem segue dietas low carb, ou seja, dietas que preconizam o consumo reduzido de carboidratos.
Para aqueles que já têm um indicativo de seu médico / nutricionista para seguir este tipo de dieta, nas refeições “principais”, deve-se preconizar também a ingestão de verduras e legumes de baixo teor de carboidratos, como folhas verdes e vegetais crucíferos, para que não ocorra uma desregulação do funcionamento intestinal (problemas digestivos e constipação), portanto, durante as primeiras semanas, é importante dar atenção para o consumo destas fibras.
Referência
[1] The Charlie Foundation https://www.charliefoundation.org/
[2] Foster GD, et al. A randomized trial of a low-carbohydrate diet for obesity. New England Journal of Medicine, 2003.